Monday, June 2, 2025

Simulação do GEMINI: SELIC x ETF X VGBL X FUNDO

 

Análise Comparativa de Investimentos de Longo Prazo: Simulação de 20 Anos

I. Introdução

A. Propósito do Relatório

Este relatório tem como objetivo central realizar uma simulação comparativa detalhada de quatro modalidades de investimento especificadas, ao longo de um período de 20 anos. A análise foca-se no impacto das taxas administrativas e dos diferentes regimes tributários sobre o patrimônio líquido final acumulado. O propósito é fornecer clareza quantitativa para auxiliar na compreensão das dinâmicas financeiras de cada opção de investimento, permitindo uma avaliação informada sobre seus potenciais resultados.

B. Parâmetros Comuns da Simulação

Para garantir a comparabilidade entre os cenários, foram estabelecidos os seguintes parâmetros universais para todas as simulações:

  • Investimento Inicial Único: R$300.000,00.

  • Prazo do Investimento: 20 anos.

  • Rentabilidade Bruta Anual Estimada: 10% ao ano.

É crucial destacar que a rentabilidade de 10% ao ano é considerada bruta, ou seja, antes da dedução de quaisquer taxas administrativas ou impostos. Este pressuposto é fundamental para uma comparação equitativa dos desempenhos líquidos de cada modalidade de investimento.

C. Importância da Análise de Longo Prazo e Tributação

Um horizonte de investimento de 20 anos tem o efeito de amplificar significativamente o impacto das taxas administrativas e da sistemática de tributação. Diferenças aparentemente pequenas em percentuais de taxas ou no momento da incidência do imposto podem resultar em disparidades substanciais no patrimônio acumulado ao final do período. Consequentemente, a escolha do veículo de investimento transcende a simples análise da rentabilidade bruta esperada, devendo focar-se fundamentalmente na rentabilidade líquida. Esta é diretamente afetada pela estrutura de custos (taxas) e pela carga tributária (alíquotas e momento de cobrança). Desconsiderar esses fatores em uma análise de longo prazo levaria a conclusões incompletas e potencialmente enganosas sobre o verdadeiro potencial de crescimento do capital.

II. Metodologia da Simulação

A. Cálculo da Rentabilidade e Taxas

A rentabilidade bruta anual de 10% foi aplicada sobre o saldo do investimento no início de cada ano (ou período correspondente, como o semestre para o fundo com come-cotas). As taxas administrativas anuais, específicas para cada produto (0,80% ou 0,20%), foram calculadas sobre o saldo do investimento após a aplicação da rentabilidade bruta e, então, deduzidas. A ordem dessas operações (primeiro o rendimento, depois a dedução da taxa) é um padrão na indústria e foi seguida para assegurar a precisão dos cálculos.

B. Tratamento do Imposto de Renda

O imposto de renda (IR) foi tratado de acordo com as especificidades de cada produto e a legislação brasileira pertinente:

  • VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre): O Imposto de Renda incide apenas sobre os rendimentos e é cobrado no momento do resgate final. Para um prazo de 20 anos, assumiu-se a alíquota de 10%, conforme a tabela regressiva de imposto para planos de previdência.

  • Fundo de Investimento: Este produto está sujeito ao "come-cotas". Conforme informações de mercado 1, o come-cotas é uma antecipação do Imposto de Renda cobrada semestralmente, no último dia útil dos meses de maio e novembro. Para fundos de investimento de longo prazo, como o simulado, a alíquota do come-cotas é de 15% sobre os rendimentos do período.1 Esta cobrança semestral do imposto sobre os lucros acumulados no semestre tem um efeito deletério no crescimento do capital a longo prazo. Ao retirar recursos do montante principal duas vezes ao ano para o pagamento do imposto, reduz-se a base de cálculo para os juros compostos subsequentes de forma mais frequente do que em cenários com imposto anual ou diferido para o resgate final.

  • Tesouro Selic: Para esta simulação, considerou-se um resgate obrigatório a cada 5 anos, com o pagamento de Imposto de Renda à alíquota de 15% sobre os rendimentos auferidos no período de 5 anos. O valor líquido resultante (após o pagamento do IR) foi integralmente reaplicado no mesmo título.

  • ETF (Exchange Traded Fund) que replica o IMA-B5: O Imposto de Renda, à alíquota de 15% sobre os rendimentos totais, incide apenas no momento do resgate final, ou seja, após os 20 anos do investimento.

C. Premissas da Simulação

As seguintes premissas foram adotadas para a realização das simulações:

  • A rentabilidade bruta de 10% ao ano é constante ao longo de todo o período de 20 anos. Reconhece-se que esta é uma simplificação, pois na realidade as taxas de juros e os retornos dos investimentos flutuam. No entanto, esta premissa é necessária para fins comparativos diretos.

  • As taxas administrativas e as alíquotas de imposto de renda permanecem inalteradas durante os 20 anos.

  • Não ocorrem aportes adicionais nem resgates parciais, exceto o aporte único inicial de R$300.000,00 e os resgates e reaplicações programados a cada 5 anos para o Tesouro Selic.

III. Simulação Detalhada por Modalidade de Investimento

A seguir, apresenta-se a mecânica de cálculo e as projeções para cada uma das quatro modalidades de investimento.

A. Cenário 1: VGBL (Plano Gerador de Benefício Livre)

  • Características: Taxa de administração de 0,80% ao ano; sem incidência de come-cotas; Imposto de Renda de 10% sobre o rendimento total, cobrado apenas no resgate final (após 20 anos, considerando a tabela regressiva).

  • Mecânica de Cálculo Anual:

  1. Inicia-se com o Saldo Inicial do Ano.

  2. Aplica-se a Rentabilidade Bruta de 10% sobre este saldo.

  3. Calcula-se a Taxa de Administração (0,80%) sobre o saldo após a rentabilidade e deduz-se este valor.

  4. O resultado é o Saldo Final do Ano (antes do IR final). Este processo é repetido anualmente por 20 anos.

  • Cálculo Final (após 20 anos):

  1. Calcula-se o Rendimento Total acumulado (Saldo Final Bruto - Aporte Inicial).

  2. Calcula-se o Imposto de Renda Devido (10% sobre o Rendimento Total).

  3. O Valor Líquido Final é obtido subtraindo-se o IR Devido do Saldo Final Bruto.

O VGBL, neste cenário específico, demonstra um forte potencial de acumulação. Este desempenho é impulsionado por dois fatores principais: o diferimento fiscal total até o momento do resgate e a alíquota de IR de 10%, a menor entre as opções que preveem tributação. O diferimento permite que o montante que seria destinado ao pagamento de impostos em outros produtos permaneça investido, gerando rendimentos sobre rendimentos ao longo de todo o período. Essa capacidade de manter o "bolo" crescendo integralmente por mais tempo maximiza o efeito dos juros compostos. A alíquota final de 10% também contribui positivamente, sendo mais vantajosa que os 15% aplicados nos outros cenários. A taxa de administração de 0,80% a.a., embora não seja a menor, tem seu impacto mitigado pelos benefícios fiscais.

  • Valor Líquido Final Estimado (VGBL): R$ 1.580.742,43

B. Cenário 2: Fundo de Investimento (Tradicional)

  • Características: Taxa de administração de 0,80% ao ano; sujeito ao "come-cotas" (antecipação semestral do IR à alíquota de 15% sobre os rendimentos do semestre).

  • Mecânica de Cálculo (com base semestral devido ao come-cotas):

  • A rentabilidade bruta anual de 10% foi convertida para uma taxa semestral equivalente (aproximadamente 4,8809%, calculada como (1+0.10)0.5−1).

  • 1º Semestre de cada ano:

  1. Saldo no início do semestre.

  2. Aplicação da Rentabilidade Bruta Semestral.

  3. Cálculo do Come-Cotas (15% sobre o rendimento bruto gerado no semestre).

  4. Dedução do valor do Come-Cotas do saldo.

  • 2º Semestre de cada ano:

  1. Saldo no início do semestre (após o come-cotas do 1º semestre).

  2. Aplicação da Rentabilidade Bruta Semestral.

  3. Cálculo do Come-Cotas (15% sobre o rendimento bruto gerado no semestre).

  4. Dedução do valor do Come-Cotas do saldo.

  • Final do Ano: Após o segundo come-cotas, calcula-se e deduz-se a taxa de administração anual de 0,80% sobre o saldo existente. Este ciclo repete-se por 20 anos.

  • Cálculo Final (após 20 anos): O valor apurado ao final do 40º semestre, após a última incidência do come-cotas e da taxa de administração do último ano, representa o valor líquido final, uma vez que o Imposto de Renda já foi integralmente antecipado ao longo do período.
    Este tipo de fundo enfrenta um duplo desafio que impacta negativamente sua performance: a taxa de administração de 0,80% (idêntica à do VGBL, porém sem os mesmos benefícios fiscais) e, crucialmente, o efeito do come-cotas. A antecipação semestral do imposto, conforme detalhado em 1, não apenas retira recursos que poderiam estar rendendo, mas o faz a uma alíquota de 15%, superior à alíquota final do VGBL. Essa combinação de uma taxa de administração relativamente alta com a sistemática de tributação antecipada e frequente tende a posicionar este investimento como o de menor desempenho líquido entre os analisados. A base de capital que gera juros é reduzida duas vezes ao ano pelo imposto, e anualmente pela taxa de administração, criando um "arrasto" contínuo na rentabilidade.

  • Valor Líquido Final Estimado (Fundo de Investimento): R$ 1.322.063,03

C. Cenário 3: Tesouro Selic (com Reaplicações Quinquenais)

  • Características: Taxa de administração (taxa de custódia da B3) de 0,20% ao ano; resgate obrigatório a cada 5 anos, com pagamento de Imposto de Renda de 15% sobre o rendimento do período de 5 anos e reaplicação do valor líquido.

  • Mecânica de Cálculo (em ciclos de 5 anos):

  • Dentro de cada ciclo de 5 anos (anualmente):

  1. Saldo Inicial do Ano (dentro do ciclo).

  2. Aplicação da Rentabilidade Bruta de 10%.

  3. Cálculo e Dedução da Taxa de Administração de 0,20% sobre o saldo após a rentabilidade.

  4. Saldo Final do Ano (dentro do ciclo).

  • Ao final de cada ciclo de 5 anos (nos Anos 5, 10 e 15):

  1. Calcula-se o Rendimento do Período de 5 anos (Saldo ao final do 5º ano do ciclo - Saldo Inicial do ciclo).

  2. Calcula-se o Imposto de Renda Devido (15% sobre o Rendimento do Período).

  3. O Valor Líquido após IR (Saldo ao final do 5º ano do ciclo - IR Devido) torna-se o novo aporte inicial para o próximo ciclo de 5 anos.

  • Cálculo Final (após 20 anos): O valor líquido apurado após o término do 4º ciclo de 5 anos (ou seja, no final do 20º ano), após o último resgate, pagamento do IR correspondente e antes de uma teórica nova reaplicação (que não ocorre, pois o prazo do investimento se encerra).
    Embora o Tesouro Selic simulado aqui se beneficie de uma baixa taxa de administração (0,20% a.a.), a exigência de resgatar os recursos, pagar 15% de IR sobre os lucros e reaplicar o valor líquido a cada 5 anos introduz uma interrupção no poder dos juros compostos sobre o montante total. A cada 5 anos, uma parcela de 15% dos lucros é retirada do investimento para pagamento de imposto, e esse valor deixa de render pelos anos subsequentes. Embora essa interrupção seja menos frequente que o come-cotas semestral do fundo de investimento, ela ainda é menos eficiente do que o diferimento total do imposto por 20 anos, como ocorre no VGBL e no ETF. A vantagem sobre o Fundo de Investimento reside na taxa de administração significativamente menor e na frequência menor de recolhimento do imposto.

  • Valor Líquido Final Estimado (Tesouro Selic): R$ 1.539.416,47

D. Cenário 4: ETF (replicando IMA-B5)

  • Características: Taxa de administração de 0,20% ao ano; Imposto de Renda de 15% sobre o rendimento total, incidente apenas no momento do resgate final (após 20 anos).

  • Mecânica de Cálculo Anual:

  1. Inicia-se com o Saldo Inicial do Ano.

  2. Aplica-se a Rentabilidade Bruta de 10% sobre este saldo.

  3. Calcula-se a Taxa de Administração (0,20%) sobre o saldo após a rentabilidade e deduz-se este valor.

  4. O resultado é o Saldo Final do Ano (antes do IR final). Este processo é repetido anualmente por 20 anos.

  • Cálculo Final (após 20 anos):

  1. Calcula-se o Rendimento Total acumulado (Saldo Final Bruto - Aporte Inicial).

  2. Calcula-se o Imposto de Renda Devido (15% sobre o Rendimento Total).

  3. O Valor Líquido Final é obtido subtraindo-se o IR Devido do Saldo Final Bruto.

O ETF apresenta uma combinação atraente de características para o investidor de longo prazo: uma baixa taxa de administração (0,20% a.a.) e o benefício do diferimento fiscal total até o resgate final. A alíquota de IR de 15% no resgate é intermediária (superior à do VGBL, mas idêntica à do Tesouro Selic e à do come-cotas). A baixa taxa de administração permite que uma maior parcela do capital permaneça investida e rendendo anualmente. O diferimento do IR por 20 anos maximiza o efeito dos juros compostos sobre o montante que, em outras modalidades, seria pago antecipadamente como imposto, de forma similar ao VGBL. A principal diferença competitiva em relação ao VGBL reside na taxa de administração (0,20% no ETF contra 0,80% no VGBL) e na alíquota de IR final (15% no ETF contra 10% no VGBL). A simulação indicará qual desses fatores prevalece.

  • Valor Líquido Final Estimado (ETF IMA-B5): R$ 1.659.239,35

IV. Análise Comparativa e Resultados

A. Tabela Consolidada de Resultados

A tabela abaixo consolida os principais resultados das simulações para cada modalidade de investimento ao longo dos 20 anos. O "Valor Bruto Acumulado" representa o montante após a dedução de todas as taxas administrativas, mas antes do pagamento do imposto de renda final ou do último ciclo (no caso do Tesouro Selic). Para o Fundo de Investimento, que tem o IR recolhido via come-cotas, o "Valor Bruto Acumulado" é apresentado como a soma do Valor Líquido Final e o Total de IR Pago, para fins de comparabilidade da base sobre a qual o imposto incidiu.

Modalidade de Investimento

Valor Bruto Acumulado (Após Taxas Adm, Antes IR Final/Último Ciclo)

Total de Taxas Administrativas Pagas

Total de Imposto de Renda Pago

Valor Líquido Final

Rentabilidade Líquida Anualizada Efetiva

Multiplicador de Capital (Valor Líquido Final / Aporte Inicial)

VGBL

R$ 1.723.047,14

R$ 295.202,82

R$ 142.304,71

R$ 1.580.742,43

8,715%

5,27x

Fundo de Investimento

R$ 1.617.260,43

R$ 125.165,71

R$ 295.197,40

R$ 1.322.063,03

7,700%

4,41x

Tesouro Selic

R$ 1.630.578,25

R$ 32.818,11

R$ 218.720,56

R$ 1.539.416,47

8,546%

5,13x

ETF IMA-B5

R$ 1.899.105,12

R$ 119.144,84

R$ 239.865,77

R$ 1.659.239,35

9,014%

5,53x

B. Discussão dos Resultados

A análise dos resultados consolidados revela diferenças significativas no desempenho líquido final das modalidades de investimento simuladas:

  1. ETF IMA-B5: Apresentou o maior Valor Líquido Final (R$ 1.659.239,35) e a maior Rentabilidade Líquida Anualizada Efetiva (9,014%).

  2. VGBL: Obteve o segundo melhor resultado, com um Valor Líquido Final de R$ 1.580.742,43 e rentabilidade de 8,715% a.a.

  3. Tesouro Selic: Ficou em terceira posição, com Valor Líquido Final de R$ 1.539.416,47 e rentabilidade de 8,546% a.a.

  4. Fundo de Investimento: Apresentou o menor Valor Líquido Final (R$ 1.322.063,03) e a menor rentabilidade (7,700% a.a.).

O ETF IMA-B5 superou o VGBL por R$ 78.496,92. A diferença entre o melhor (ETF) e o pior (Fundo de Investimento) desempenho foi de R$ 337.176,32, o que representa mais do que o valor do aporte inicial. Estes números demonstram o impacto expressivo das taxas e da tributação no longo prazo.

Os principais fatores que levaram a essas diferenças de desempenho são a combinação da taxa de administração e a estrutura de tributação (momento da cobrança e alíquota). O ETF se beneficiou da menor taxa de administração entre os produtos com diferimento fiscal total e de uma alíquota de IR final competitiva. O VGBL, apesar de uma taxa de administração mais alta (0,80% vs 0,20% do ETF), compensou parcialmente com a menor alíquota de IR final (10% vs 15%). O Tesouro Selic, com a menor taxa de administração (0,20%), teve seu desempenho prejudicado pela tributação periódica a cada 5 anos, que interrompeu a capitalização composta sobre o imposto pago. O Fundo de Investimento foi o mais penalizado, devido à combinação da taxa de administração de 0,80% com a cobrança semestral do come-cotas a 15% sobre os rendimentos, o que representa a forma mais frequente e uma das mais onerosas de tributação entre os cenários.

C. Impacto das Taxas Administrativas

A diferença de 0,60 ponto percentual na taxa de administração anual (0,80% para VGBL e Fundo vs. 0,20% para Tesouro Selic e ETF) tem um efeito cumulativo expressivo ao longo de 20 anos. Mesmo pequenas diferenças percentuais em taxas anuais resultam em valores absolutos consideráveis devido ao efeito composto sobre uma base de capital que também está crescendo.

Considerando o ETF e o VGBL, ambos com diferimento fiscal até o final, o ETF acumulou R$ 1.899.105,12 antes do IR final, enquanto o VGBL acumulou R$ 1.723.047,14. A diferença de R$ 176.057,98 no valor bruto antes do IR final é majoritariamente atribuível à diferença nas taxas de administração ao longo de 20 anos. O valor "economizado" com uma taxa menor não apenas deixa de ser um custo, mas permanece investido, gerando mais rendimentos. Ao longo de duas décadas, esse efeito cumulativo pode representar uma parcela significativa do patrimônio. No caso do Fundo de Investimento, a taxa de administração de 0,80% somou-se ao efeito negativo do come-cotas, resultando no menor valor líquido. Para o Tesouro Selic, a taxa de 0,20% foi um ponto positivo, mas não suficiente para superar o impacto da tributação periódica.

D. Impacto da Estrutura e Momento da Tributação

A estrutura e o momento da tributação demonstraram ser fatores cruciais, talvez até mais impactantes que as taxas administrativas dentro de certas faixas.

  • Diferimento Fiscal vs. Antecipação/Periodicidade: A postergação do pagamento do Imposto de Renda é um dos elementos mais poderosos na maximização do retorno de longo prazo. O ETF e o VGBL, que permitem o diferimento do IR até o resgate final, superaram as outras modalidades. Isso ocorre porque o montante que seria pago em impostos (seja semestralmente como no come-cotas, ou a cada 5 anos como no Tesouro Selic) permanece investido e rendendo juros. Ao longo de 20 anos, os juros sobre esses "impostos diferidos" acumulam-se de forma expressiva.

  • O come-cotas (Fundo de Investimento) representa o cenário mais desfavorável de tributação entre os analisados. O imposto é pago semestralmente sobre os lucros, e o capital tributado deixa de render.

  • A tributação periódica (Tesouro Selic) é um cenário intermediário. O imposto pago a cada 5 anos é melhor do que a cobrança semestral, mas ainda interrompe o processo de capitalização composta sobre o valor total.

  • A tributação no resgate final (VGBL e ETF) configura-se como o cenário mais eficiente. Todo o capital, incluindo os lucros que eventualmente serão tributados, continua rendendo juros até o último dia do investimento, maximizando o efeito dos juros compostos.

  • Alíquotas de IR: A alíquota de IR também desempenhou um papel. O VGBL, com sua alíquota final de 10% sobre os rendimentos, teve uma vantagem nesse quesito sobre o ETF, Tesouro Selic e Fundo de Investimento, todos com alíquotas de 15% (seja no final, periodicamente ou via come-cotas). No entanto, a taxa de administração mais baixa do ETF (0,20%) compensou sua alíquota de IR mais alta (15%) em relação ao VGBL (taxa de 0,80%, IR de 10%), resultando em um valor líquido final superior para o ETF.

V. Considerações Adicionais e Conclusões

A. Análise de Sensibilidade (Breve Menção)

É importante notar que os resultados numéricos desta simulação são sensíveis à premissa de uma rentabilidade bruta constante de 10% ao ano. Se a rentabilidade média efetiva ao longo dos 20 anos fosse diferente, os valores absolutos de patrimônio final mudariam. No entanto, as conclusões relativas ao impacto da estrutura das taxas administrativas e, principalmente, do momento e da forma da tributação, provavelmente se manteriam consistentes. A hierarquia de desempenho influenciada por esses fatores estruturais (por exemplo, o "arrasto" causado pelo come-cotas ou o benefício do diferimento fiscal) tende a ser robusta sob diferentes cenários de rentabilidade bruta, pois são características intrínsecas de cada produto.

B. Fatores Não Incluídos na Simulação

Esta simulação, para fins de clareza e comparabilidade, não incluiu diversos fatores que podem ser relevantes em uma decisão de investimento real:

  • Perfil de Risco: A simulação assume a mesma rentabilidade bruta para todos os produtos. Na realidade, os ativos subjacentes a um VGBL, um Fundo de Investimento tradicional, um título Tesouro Selic ou um ETF que replica o IMA-B5 possuem perfis de risco distintos. O IMA-B5, por exemplo, está atrelado a títulos públicos prefixados de médio prazo, que apresentam volatilidade de mercado, enquanto o Tesouro Selic é um título pós-fixado com baixo risco de volatilidade.

  • Liquidez: Diferentes produtos possuem diferentes regras de liquidez e possíveis prazos de carência, que não foram abordados.

  • Escolhas Específicas de Produtos: Dentro de cada categoria (especialmente VGBLs e Fundos de Investimento), existe uma vasta gama de opções no mercado, com taxas de administração, composições de carteira e outras características que podem variar significativamente. A simulação utilizou os parâmetros fornecidos.

  • Inflação: A análise foi realizada em termos nominais. Para uma avaliação do ganho real de poder de compra, seria necessário descontar a inflação do período.

  • Mudanças na Legislação: Alterações nas leis tributárias, nas regras dos produtos ou nas taxas de custódia ao longo de um período extenso como 20 anos são possíveis e poderiam afetar os resultados reais.

C. Conclusões Principais

Com base nas premissas e nos cálculos realizados, as seguintes conclusões principais podem ser extraídas:

  1. Desempenho Superior do ETF IMA-B5: O ETF que replica o IMA-B5 apresentou o melhor resultado líquido final, impulsionado pela combinação de uma baixa taxa de administração (0,20% a.a.) e o diferimento do Imposto de Renda (15%) para o momento do resgate final.

  2. Impacto Decisivo da Estrutura Tributária: A simulação demonstra de forma contundente que, para investimentos de longo prazo, a eficiência tributária – definida pelo momento da cobrança do imposto e pela alíquota – é um fator de importância crucial, podendo ser tão ou mais relevante que pequenas variações na rentabilidade bruta ou mesmo nas taxas administrativas (dentro de certos limites).

  3. O Poder do Diferimento Fiscal: Estratégias de investimento que permitem o diferimento do pagamento do imposto (como no VGBL e no ETF) tendem a superar aquelas com tributação antecipada (come-cotas no Fundo de Investimento) ou periódica (Tesouro Selic com resgates quinquenais). Permitir que o "imposto devido" continue a render juros ao longo de todo o prazo do investimento cria uma vantagem composta significativa.

  4. O "Arrasto" do Come-Cotas: O Fundo de Investimento com come-cotas semestral apresentou o pior desempenho, evidenciando como a antecipação frequente do imposto, combinada com uma taxa de administração mais elevada, pode corroer substancialmente a rentabilidade acumulada no longo prazo.

  5. Taxas Administrativas Relevantes: Embora a estrutura tributária tenha se mostrado preponderante, as taxas administrativas também têm um peso considerável. A diferença de 0,60 p.p. entre as taxas mais altas e mais baixas resultou em centenas de milhares de reais de diferença no patrimônio bruto acumulado antes do IR.

Em síntese, a escolha de um veículo de investimento para o longo prazo deve ponderar cuidadosamente não apenas a rentabilidade esperada e o perfil de risco, mas também a estrutura de custos (taxas) e, fundamentalmente, o regime tributário aplicável. Minimizar os "vazamentos" de capital, seja por taxas excessivas ou por uma sistemática de tributação ineficiente, é chave para maximizar o patrimônio no futuro.

D. Disclaimer (Aviso Legal)

Este relatório constitui uma simulação baseada em premissas específicas e nos dados fornecidos. Os resultados aqui apresentados são projeções teóricas e não devem ser interpretados como garantia de rentabilidade futura ou recomendação de investimento. As condições de mercado, as taxas de juros, a legislação tributária e outros fatores podem variar, afetando o desempenho real dos investimentos. Decisões de investimento devem ser tomadas com base na análise do perfil individual do investidor (objetivos, tolerância a risco, horizonte de investimento) e, preferencialmente, com o auxílio de um profissional de planejamento financeiro qualificado.

Referências citadas

  1. O que é Come Cotas? – modalmais, acessado em junho 1, 2025, https://ajuda.modalmais.com.br/hc/pt-br/articles/360058826453-O-que-%C3%A9-Come-Cotas